quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Dicas para montar e aproveitar uma aula num centro histórico

1. Prepare o passeio: A fase de preparação é, talvez, a mais importante, pois é a que envolve todas as expectativas da criança. Procure informações na internet, em mapas, em livros (temos aí uma boa oportunidade para visitar uma biblioteca também!).

2. Busque referências: Se você vai visitar o centro histórico da sua cidade, uma etapa importante é buscar as histórias das pessoas que viviam lá. Onde moravam? Onde trabalhavam? Como era o seu estilo de vida? Que meio de transporte utilizavam? Busque respostas para essas perguntas em jornais antigos, documentos e, claro, conversas com os moradores. Levar a criança para bater um papo com um morador antigo do bairro antes ou depois do passeio pode ser muito interessante. Assim, ela poderá fazer as próprias perguntas e sanar as suas curiosidades.

3. Documente tudo: é importante que você e os alunos documentem tudo juntos - desde o planejamento até as conclusões a que chegaram depois da visita. Antes: vocês podem organizar um diário, com os lugares que vão visitar e anotações do que já sabem sobre eles. Durante: é hora de tirar fotos e anotar o que encontrarem de interessante - desde a data de construção de um prédio antigo até a explicação ao lado de um quadro num museu. Depois: vem a parte da organização. É hora de selecionar as melhores fotos, imprimi-las e montar um álbum ou cartazes com legendas, para que a turma nunca esqueça o que viu. E é bom lembrar: o ato de documentar, além de deixar uma boa lembrança do passeio, incentiva a criança a praticar a escrita.

4. Caminhe: O melhor jeito de conhecer um centro histórico é caminhando. Nada de carros ou ônibus. Andar a pé, observando a arquitetura e as construções antigas, proporciona uma vivência muito mais interessante do que entrar e sair correndo de museus e centros culturais.

5. Faça perguntas: Num passeio num centro histórico, os adultos têm o papel de incentivar a reflexão entre as crianças. Diante de um prédio antigo, pergunte o que elas acham dele, se acham bonito ou feio. Ao observar a estátua de alguém, pergunte se elas sabem quem foi essa pessoa e se elas acham que a pessoa realmente merece um monumento. Ao andar por uma rua de paralelepípedos, faça-as observar como era o calçamento de antigamente. É importante, enfim, fazer que elas reflitam sobre o que estão vendo, para que, assim, possam entender também a cidade em que vivem. Lembre-se, no entanto, de adaptar esse momento de reflexão para a idade das crianças ou dos adolescentes. Diante de uma estátua, por exemplo, é possível agir de duas maneiras: com os menores, peça que eles identifiquem os elementos presentes na mesma; com os mais velhos, uma abordagem possível é falar sobre a época em que viveu a pessoa retratada.

6. Siga os interesses dos alunos: Lembre-se sempre que o passeio é um momento de lazer e aprendizagem para os seus alunos. Peça a opinião deles e tente priorizar atividades do seu interesse. Tudo bem que há um museu histórico muito interessante justamente onde vocês estão, mas os seus alunos não param de falar que querem ver uma estátua numa praça que está a um quilômetro de distância? Siga a vontade deles. A criança e o adulto não entendem a História da mesma maneira. É importante descobrir quais são os interesses da criança.

7. Compare o passado e o presente: Uma cidade é do jeito que é por causa de seu passado, de sua história. O Centro de Natal tem casarões suntuosos, por exemplo, porque já foi a parte mais rica da cidade. Hoje, no entanto, é uma área um pouco degradada. Por quê? Para onde foram as pessoas ricas que ali moravam? Como foi esse processo de degradação? Por meio de fotos, que podem ser encontradas na internet ou em bibliotecas, é possível ver a cidade em períodos diferentes e fazer essa comparação. Mas é importante não idealizar e achar que o passado era como em algumas novelas das seis. Também havia pobreza e conflitos sociais.

8. Prove comidas típicas: É claro que um passeio como esse - em que o ideal é andar a pé - é bastante cansativo e vocês vão precisar fazer uma pausa com as crianças. Se possível, faça isso quando bater a fome e aproveite para comer algo típico e, assim, continuar falando de História com seus alunos. É importante falar das ideias, da culinária, da cultura do povo. Toda cidade ou região tem uma comida que faz parte da sua história. Aproveite para prová-la nesse passeio histórico com o seus alunos! 

Postagem de Thaís Maranhão (thaís.fly74@yahoo.com.br)

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS:
REVISTA EDUCAR PARA CRESCER
REVISTA NOVA ESCOLA

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

História e Poesia: Uma reflexão acerca da História Indígena a partir da "Canção do Tamoio", de Gonçalves Dias

Atividade destinada aos alunos do Fundamental II

        Um dos papeis fundamentais da História é a sua capacidade de construir e desconstruir conceitos criticamente. Assim sendo, faz parte do trabalho do profissional de História, bem como do próprio professor de tal disciplina escolar, promover tal reflexão sempre que surgir a possibilidade de fazê-lo. 
  No caso específico dos docentes, uma boa oportunidade de realizar tal tarefa com seus alunos se dá nas datas comemorativas. Nessas ocasiões, o professor pode aproveitar para discutir temas específicos e também estimular a reflexão dos discentes acerca de aspectos de nossa cultura que muitas vezes são internalizados erroneamente ao longo dos anos de aprendizagem escolar. 
  No post de hoje, veremos como se pode, por exemplo, trabalhar o "Dia do Índio" (19 de Abril) nas classes do Ensino Fundamental II. Nessa aula, o professor enfatizará e promoverá o debate sobre a visão que foi construída acerca do indígena brasileiro, procurando retirar da mesma a carga de romantismo e superficialidade que, infelizmente, foi posta sobre a sua imagem ao longo dos anos. Para tal, trazemos uma atividade que envolve o poema "Canção do Tamoio", de Antônio Gonçalves Dias.

1) Leitura coletiva: Leia o seguinte trecho juntamente com seus alunos:

Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.

E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.

Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranquilo nos gestos,
Impávido, audaz.

2) Abra espaço para a discussão: Após realizar a leitura coletiva do poema, incentive os seus alunos a dizerem a opinião deles sobre a visão do índio Tamoio que é construída no texto. À  medida que as interpretações surgirem, dê maior destaque àquelas que enfatizam uma visão heroica do indígena, como sendo um indivíduo resistente e guerreiro. 

3) Peça uma pesquisa e proponha uma atividade: Feita a discussão sobre a visão do índio apresentada no poema, leve para a sala de aula textos que mostrem a situação do nativo brasileiro ao longo da colonização, destacando a escravização da qual esses povos foram vítimas. O livro didático também poderá ser usado para essa parte da pesquisa. Depois, leve textos que foram publicados em revistas e jornais e que mostram a atual situação dos povos indígenas e sua luta pela própria terra. Em posse de tal material, incentive a pesquisa e proponha uma atividade escrita que o aluno deverá fazer com base nos textos que tem à sua disposição. Tal tarefa pode ser um questionário ou a realização de uma redação, porém em ambas as propostas o professor deve incentivar que o aluno faça a ligação entre a história do índio e a sua atual realidade.

4) Retorne ao poema: Depois da discussão inicial e da pesquisa sobre a realidade enfrentada pelos indígenas aos longos dos anos, retorne ao poema de Gonçalves Dias. Agora, os alunos terão maior bagagem de conhecimento e capacidade para fazer uma nova interpretação da obra. Promova uma nova discussão na qual os estudantes terão a oportunidade de expressar aquilo que aprenderam com a pesquisa feita. Esse é o momento de desconstruir a tradicional visão que os alunos poderiam ter acerca dos povos indígenas e construir uma nova imagem dos mesmos, sendo esta baseada na realidade deles, da mais antiga à mais atual, e não preconceitos que, ao longo da história, foram sendo construídos em relação aos nativos brasileiros.

Postagem de Suzana Sabino (suzana_sabino@hotmail.com)

Referência bibliográfica:
SOUSA, Rainer. A trajetória dos índios e a "Canção do Tamoio". Disponível em: <http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/a-trajetoria-dos-indios-cancao-tamoio.htm>. Acesso em: 24 nov. 2014.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Trabalhando com filmes


  

Os filmes são um dos suportes mais apropriados pela história nos últimos anos, entendido como uma forma de ver o mundo e o real. E a partir das formulações da Nova Historia também entendido como um suporte de produção histórico.
            Muitas críticas são feitas a respeito da legitimidade ou cientificidade que o suporte cinematográfico pode ter. Grande parte dos historiadores ainda pode pensar que o filme banaliza a história, quando não a falsifica ou a distorce do real. Mas a verdade é que a historiografia é tão artística e cientifica quanto o cinema. É impossível saber como o passado é em toda a sua realidade. O historiador consegue fazer um apanhado, com base nas fontes, dos registros históricos. Assim, forma assertivas e reconstrói parte do real. O filme é também a representação do que é perceptível do real. A ficção-história não é uma carga apenas do cinema, mas também dos documentos escritos.
            O cinema-história é uma forma de representação. Quer seja com sua percepção do real, quer seja com sua carga ficcional, as produções cinematográficas são registros históricos, não apenas de momentos e indivíduos, mas também de costumes, conceitos, moda, expressos por figurinos, paisagens e demais aspectos. Este tipo de produção histórica foi defendido e explorado por historiadores da escola dos Annales como Marc Ferro, Pierre Nora e Jacques Le Goff (1924-2014), que participou de produções como O Nome da Rosa.
Visto que os filmes são ótimos exemplos de registros históricos, o desafio é como trabalhar estes suportes, mais especificamente no ambiente escolar. A resposta está naquilo que os filmes têm como principal papel nas grandes massas, que é a visível capacidade de formar opiniões e conceitos, além, é claro, de abordar de forma mais fácil alguns assuntos. Mas a pura exibição do filme não produz resultados aceitáveis. Além de fornecer as opiniões e conceitos é preciso construir o entendimento destes através do tempo. Assim, o filme por si só é incompleto na prática pedagógica. Ele precisa sempre ser acompanhado de exercícios auxiliares, como discussões, produções textuais, dinâmicas, trabalhos em grupo, ações que venham a contribuir com a reflexão das representações. Estas atividades fazem parte da inteligibilidade do cinema-história na sala de aula e constituem uma importante ferramenta de ensino.



 Postagem de Emídio de Medeiros (emidio.medeiros@hotmail.com)

Referências bibliográficas:

O filme e a representação do real. Disponível em: <http://www.compos.org.br/seer/index.php/e-compos/article/viewFile/90/90>. Acesso em: Nov 2014.
Apologia da relação cinema-história. Disponível em: <http://www.oolhodahistoria.ufba.br/01apolog.html>. Acesso em: Nov 2014.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Hildegard von Bigen, uma "doutora da Igreja" medieval.

Hildegard von Bingen por Morgan Ungerott

Você sabia que na História da Igreja, somente quatro mulheres possuem o título de Doutoras da Igreja? Entre elas, a mais recente recebedora da honraria é a abadessa de Rupertsberg, Hildegard von Bigen, nascida em 1098 d.C.

Sua notoriedade se deu principalmente por suas habilidades e publicações na medicina e botânica, descrevendo e classificando patologias e remédios, sempre relacionando as partes do corpo ao espírito, e utilizando alegorias para relacionar os órgãos, como por exemplo associar o movimento do espírito humano ao cérebro.
Apesar de seus diagnósticos médicos restringirem-se ao parâmetros medievais, Hildergard destaca-se por sua visão global do homem: ela enfatizava não só a importância de tratar a doença, mas defendia uma mudança no estilo de vida tanto para erradicá-la como para prevenir futuros males.

Mesmo sem ter título de médica, Hildegard von Bigen era uma curandeira notável, e sem dúvida suas contribuições foram importantes não só para a Igreja como para o estudo da história e da medicina nos tempos medievais. 
Além disso, ela é tida como representante do feminismo católico no início do primeiro milênio, por dar liberdade às monjas de seus mosteiros, que exerciam atividades de composição, estudo das ciências naturais e escrita.




Dicas para o professor:
1. Nas classes do ensino médio, você pode trazer outras personalidades femininas de destaque na Idade média. Pegue o material, divida os alunos em grupos, e peça para cada equipe, após uma breve leitura, compartilhar com a sala sobre sua personagem.
2. Que tal fazer um caça-palavras com os alunos do ensino fundamental? Você pode usar o nome dos doutores da igreja, suas atribuições e outras palavras que complementam a fixação do ensino sobre a Idade Medieval.

Postagem de Glaucia Dias (glaudiaz@hotmail.com)

Referência Bibliográfica:
SCIENTIFIC AMERICAN HISTÓRIA. A ciência na Idade Média. São Paulo: Duetto, [s.d], n.1, p.60.


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Teatro na escola: O racismo e outras opressões



Inicio este post falando de atitudes. Estranho? Não. Nós, professores, não trabalhamos apenas conteúdos - trabalhamos atitudes. Sobretudo, as atitudes negativas de nossos alunos. Nessa perspectiva de trabalho usamos conteúdos atitudinais em que procuramos “[...] modificar comportamentos que expressam racismo ou etnocentrismo, preconceito e estereótipo” (FREITAS, 2010, p. 181), sendo a dramatização com troca de papeis entre alunos uma das técnicas avançadas por Itamar Freitas. 
Esse confrontamento consigo mesmo é um artifício sobremaneira propiciador de atitudes positivas como a tolerância, a reflexão sobre si mesmo, o respeito à diversidade, e da ampliação de uma visão crítica das coisas. O teatro, em suma, é um propulsor de criticidade. Contudo, é necessário que o levemos para dentro das escolas, que o usemos de fato como recurso didático de ensino, e que o ajustemos às nossas necessidades. No nosso caso, devo dizer, a História e o teatro vivem desde sempre uma relação de proximidade. O teatro serviu-se desde sempre da História, e por que não a História do teatro?
Num trabalho apresentado na ANPUH/SP em 2010, Danilo Henrique Batista afirma que “[...] a grande maioria dos alunos de hoje em dia não tem interesse pela matéria historia pelo fato de não conseguirem associar os fatos históricos com nossa vida cotidiana [...]”, e prossegue questionando “[...] mas e se eles representassem estes mesmos fatos?” E se eles fossem, acrescento eu, levados a trabalhar conteúdos como a escravidão, a violência doméstica, o bullying?... E se eles fossem guiados no sentido de darem de caras com a realidade que os cerca, e, por esse mesmo meio, levados a pensar e a interagir com o cotidiano?
Seria ouro sobre azul, pois “quando os alunos participam de peças, abre-se a possibilidade de desenvolver a percepção de que eles são sujeitos integrantes de um processo social” (BATISTA, 2010), e suas visões de mundo, junto com eles, crescem.
Minha proposta de hoje é mais adequada para o Ensino Médio. Tem em vista o trabalho com um tema tão corrente no nosso país, mas que, acredito, nunca é demais trabalhar – o racismo.


Passo a passo:

- Coloque seus alunos para assistir este vídeo, disponível no youtube, produzido por alunos da PUC Minas (Todos contra o Preconceito!)
- No final do vídeo questione-os com relação ao que pensaram da representação teatral.
- Problematize os pensamentos dos alunos: Por que os personagens agiram daquela forma? Por que pensam dessa maneira? Como eles, alunos, reagiriam numa situação como aquela? Como acham que seria possível vencer esse preconceito? Já foram eles mesmos alvos de preconceito racial?
- Explique-lhes a ideia de que o Brasil é o país da democracia racial. Pergunte-lhes, em seguida, o que acham disso. O Brasil é ou não o país da democracia racial?
- Após a discussão, solicite como trabalho de casa um pequeno artigo de opinião sobre o assunto.
- Forme quatro grupos de alunos a fim de que eles criem, cada um, uma pequena representação em que ficará bem demonstrada uma opressão. Os temas podem ser racismo, abuso de poder, bullying e violência doméstica. Não esqueça: deve sempre procurar colocar os alunos no lugar do outro. Um exemplo: coloque um aluno branco para experimentar o lugar do afro-descendente.

Nota: Essa apresentação pode ser trabalhada durante o bimestre, podendo ser apresentada ao final para toda a comunidade escolar.

Bom trabalho! 

Postagem de Ricardo Barbosa (ricardoalex_78@hotmail.com)

Referências bibliográficas:

BATISTA, Danilo Henrique. O uso do teatro no ensino de História. Anpuh/SP. Set. 2010.
FREITAS, Itamar. A experiência indígena no ensino de História. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias. Coleção explorando o ensino - História - v. 21 - Ensino Fundamental. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010, p. 159-192.
Todos contra o preconceito. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=YlivCCXQAr0>. Acesso em: Nov 2014.