Na escolha por uma metodologia
de ensino voltada para o uso de artes cênicas, o professor deve ter especial
atenção no que concerne à preparação da prática dessa mesma metodologia,
nomeadamente no tocante à preparação do aluno, corporal e animicamente, devendo
para tal fazer uso de jogos/brincadeiras que facilitem a dinâmica teatral e a
compreensão/ligação dos alunos entre si, fomentando a relação/espírito de
grupo, o conhecimento individual do próprio corpo, a exteriorização das
emoções/pulsões, a catarse.
Sem preparação toda a prática
teatral pode resultar inútil. É necessário que se introduza o aluno à prática
teatral, que o levemos a descobrir-se, a soltar-se, a trabalhar a voz, os
gestos, a postura. É necessário que o coloquemos no seu lugar e no lugar do
outro, que o façamos enfrentar-se e ao mesmo tempo distanciar-se de si mesmo.
Indubitavelmente, esse
trabalho não dependerá única e exclusivamente do professor de História. É necessário que
os docentes das várias disciplinas trabalhem conjuntamente. O teatro não deve
ser projeto de uma só disciplina. Deve ser um projeto interdisciplinar que
agregue a atenção e os cuidados de toda a comunidade escolar. A escola deve
agir em uníssono no que tange à importância da aplicação do teatro no ensino.
Precisamente partindo dessa
premissa de que o teatro é um projeto do todo e de todos, deve encetar-se os
primeiros passos: o trabalho do corpo, o trabalho com jogos/exercícios dos mais
variados. Augusto Boal, por exemplo, no livro “200 exercícios e jogos para o
ator e o não-ator com vontade de dizer algo através do teatro”, apresenta um
total de dez capítulos dedicados ao trabalho com o ator: aquecimento físico,
aquecimento ideológico, aquecimento vocal, aquecimento emocional, exercícios de
máscaras e rituais, entre outros. O que deve ter-se em vista, em última
análise, é o caráter fundamental do trabalho com os sentidos, “[...] do
exercício da expressão corporal como discurso [...]” (VASCONCELOS, 2011),
facilitados por meio da “[...] improvisação/criação de cenas, alongamento,
jogos teatrais e brincadeiras [...]” (VASCONCELOS, 2011), no nosso caso, a
partir dos mais diversos temas de História.
Boal afirma que “[...] são
bons todos os exercícios que dividem o corpo nas suas partes, nos seus
músculos, e aqueles em que se ganha controle cerebral sobre cada músculo e cada
parte [...]” (BOAL, 1982). De minha parte, acredito que os bons exercícios são
todos aqueles que, além disso, preparam o aluno para a interação com o outro,
pois “o teatro é antes de tudo um diálogo [...]” (TOUCHARD, 1970), que opõe
duas convicções. Mais: são bons todos os exercícios que nos possibilitam uma
melhor compreensão das coisas, que se abrem ao discernir do outro e à resolução
de conflitos interiores, que viabilizam a auto-identificação, que facilitam
“[...] a busca do homem pelo entendimento e transformação daquilo que lhe
angustia” (MARCHI, 2010).
Enfim, não esqueçamos que pelo
teatro
[...]
o indivíduo tem a oportunidade de se desenvolver dentro de um determinado grupo
social de maneira responsável, legitimando os seus direitos dentro desse
contexto, estabelecendo relações entre o individual e o coletivo, aprendendo a
ouvir, a acolher e a ordenar opiniões, respeitando as manifestações (BRASIL,
1997)
e que todo esse processo se inicia precisamente
pela preparação do “ator ou não-ator com vontade de dizer algo através do teatro”.
Deixo aqui o link de acesso ao livro
de Augusto Boal para quem quiser começar as práticas de exercícios e jogos
teatrais.
Referências
bibliográficas:
BOAL,
Augusto. 2oo exercícios e jogos para o ator e o não-ator com vontade de
dizer algo através do teatro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 4ª
ed. 1982.
BRASIL.
Ministério da Educação (MEC). Parâmetros Curriculares Nacionais:
História (ensino fundamental - 1ª a 4ª séries) Brasília:MEC/SEF, 1997.
MARCHI,
Darlan de Mammann. Representações sociais, teatro e ensino de História: um
diálogo possível. Anphu-RS, 2010.
VASCONCELOS,
Claudia Pereira. O teatro como linguagem e fonte no ensino de História.
Anphu-SP, 2011.