sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Os jogos e exercícios no teatro



Na escolha por uma metodologia de ensino voltada para o uso de artes cênicas, o professor deve ter especial atenção no que concerne à preparação da prática dessa mesma metodologia, nomeadamente no tocante à preparação do aluno, corporal e animicamente, devendo para tal fazer uso de jogos/brincadeiras que facilitem a dinâmica teatral e a compreensão/ligação dos alunos entre si, fomentando a relação/espírito de grupo, o conhecimento individual do próprio corpo, a exteriorização das emoções/pulsões, a catarse.
Sem preparação toda a prática teatral pode resultar inútil. É necessário que se introduza o aluno à prática teatral, que o levemos a descobrir-se, a soltar-se, a trabalhar a voz, os gestos, a postura. É necessário que o coloquemos no seu lugar e no lugar do outro, que o façamos enfrentar-se e ao mesmo tempo distanciar-se de si mesmo.
Indubitavelmente, esse trabalho não dependerá única e exclusivamente do professor de História. É necessário que os docentes das várias disciplinas trabalhem conjuntamente. O teatro não deve ser projeto de uma só disciplina. Deve ser um projeto interdisciplinar que agregue a atenção e os cuidados de toda a comunidade escolar. A escola deve agir em uníssono no que tange à importância da aplicação do teatro no ensino.
Precisamente partindo dessa premissa de que o teatro é um projeto do todo e de todos, deve encetar-se os primeiros passos: o trabalho do corpo, o trabalho com jogos/exercícios dos mais variados. Augusto Boal, por exemplo, no livro “200 exercícios e jogos para o ator e o não-ator com vontade de dizer algo através do teatro”, apresenta um total de dez capítulos dedicados ao trabalho com o ator: aquecimento físico, aquecimento ideológico, aquecimento vocal, aquecimento emocional, exercícios de máscaras e rituais, entre outros.  O que deve ter-se em vista, em última análise, é o caráter fundamental do trabalho com os sentidos, “[...] do exercício da expressão corporal como discurso [...]” (VASCONCELOS, 2011), facilitados por meio da “[...] improvisação/criação de cenas, alongamento, jogos teatrais e brincadeiras [...]” (VASCONCELOS, 2011), no nosso caso, a partir dos mais diversos temas de História.
Boal afirma que “[...] são bons todos os exercícios que dividem o corpo nas suas partes, nos seus músculos, e aqueles em que se ganha controle cerebral sobre cada músculo e cada parte [...]” (BOAL, 1982). De minha parte, acredito que os bons exercícios são todos aqueles que, além disso, preparam o aluno para a interação com o outro, pois “o teatro é antes de tudo um diálogo [...]” (TOUCHARD, 1970), que opõe duas convicções. Mais: são bons todos os exercícios que nos possibilitam uma melhor compreensão das coisas, que se abrem ao discernir do outro e à resolução de conflitos interiores, que viabilizam a auto-identificação, que facilitam “[...] a busca do homem pelo entendimento e transformação daquilo que lhe angustia” (MARCHI, 2010). 
Enfim, não esqueçamos que pelo teatro
[...] o indivíduo tem a oportunidade de se desenvolver dentro de um determinado grupo social de maneira responsável, legitimando os seus direitos dentro desse contexto, estabelecendo relações entre o individual e o coletivo, aprendendo a ouvir, a acolher e a ordenar opiniões, respeitando as manifestações (BRASIL, 1997)
e que todo esse processo se inicia precisamente pela preparação do “ator ou não-ator com vontade de dizer algo através do teatro”.
Deixo aqui o link de acesso ao livro de Augusto Boal para quem quiser começar as práticas de exercícios e jogos teatrais.

Referências bibliográficas:  
BOAL, Augusto. 2oo exercícios e jogos para o ator e o não-ator com vontade de dizer algo através do teatro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 4ª ed. 1982.
BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Parâmetros Curriculares Nacionais: História (ensino fundamental - 1ª a 4ª séries) Brasília:MEC/SEF, 1997.
MARCHI, Darlan de Mammann. Representações sociais, teatro e ensino de História: um diálogo possível. Anphu-RS, 2010.
VASCONCELOS, Claudia Pereira. O teatro como linguagem e fonte no ensino de História. Anphu-SP, 2011.



terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Filme na Sala de Aula: "Pearl Harbor"



Para Assistir ao Filme Clique Aqui.

   O filme Pearl Harbor pretende retratar a campanha Estadunidense na segunda grande guerra, contra os japoneses. Os EUA já participavam da guerra apoiando indiretamente os países aliados, enquanto que as fabricas e corporações norte americanas lucravam comerciando tanto com aliados, como com países de eixo. Alem disso, já é sabido que os norte americanos se preparavam militarmente para intervir na segunda guerra. Em defesa de seus interesses imperialistas, e em antecipação a qualquer movimentação Estadunidense, o japão realizou um ataque surpresa a base naval de Pearl Harbor.
   Podemos dizer que este é um tipico filme feito pra quebrar recordes de bilheteria, e para isso ele incorpora desde romances dramáticos, e triângulos amorosos, ate efeitos visuais de ponta. Entretanto é visível a incoerência da produção. Como representação vemos um filme repleto do que se chama de americocentrismo. onde "os maus" japoneses são sempre retratados de forma esdruxula e inferior, enquanto "os Bons" Estadunidenses ficam com sua posição romantizada de vitima. Outra prova desta visão norte americana dos acontecimentos é que o filme Pearl Harbor não acaba em Pearl Harbor, mas sim no Japão sofrendo sua retaliação.

 O filme tem classificação indicativa de 12 anos, portanto, pode-se trabalhar com ele a partir do 7º ou 8º ano.
   
Feitas as ressalvas pelas incoerências, próprias e comuns, da cinematografia. A obra Pearl Harbor pode ser um apoio em se tratando de segunda guerra. E se constitui como uma ótima ferramenta para levar os alunos ao exercício da historia. Ate mesmo a discussão e desconstrução de alguns valores e ideais levantados no filme se torna frutífero.

propostas de atividade: 1) Um dos ramos da historia é conhecido como historia contra-factual. estimule seus alunos no "e se..." questione o que teria acontecido se não ocorre-se o ataque Japones, ou o que aconteceria se não houvesse uma retaliação avassaladora dos EUA com as Bombas Atomicas, ou ate mesmo o que poderia ter acontecido caso não houvesse guerra. enfim...deixe que seus alunos exercitem sua criatividade e participem de uma construção imaginaria.
Objetivo: levar os alunos a perceberem as relações de causa e consequência na historia. e ao entendimento de que tudo no tempo é construído, e pode ser visto de um angulo diferente.
2) Proponha uma atividade, em forma de um pequeno texto, em que os alunos mostrem como, e porque o ataque Japonês a Pearl Harbor se constitui como um fato histórico?
objetivos: fixar a aprendizagem sobre os fatos históricos. obs.: será necessário que o aluno já tenha contato com pelo menos uma definição do que seria um fato histórico.


Espero ter ajudado. Boa sorte, e uma ótima aula!

FONTES: 
http://www.infoescola.com/segunda-guerra/aliados/
http://criticadearte.blogspot.com.br/2005/05/pearl-harbor.html
http://omelete.uol.com.br/cinema/ri-melhor-quem-atira-a-ultima-bomba/#.VLVCN_ldV1Z

Postagem de Emidio José Avelino de Medeiros
(emidio.medeiros@hotmail.com)  

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Teatro na escola: O teatro do Improviso



Defendi, anteriormente, o caráter catártico do teatro, a sua verve libertária, o seu uso escapista, como se fora (e é, acredito), um veículo que nos possibilita caminhares prazerosos entre um ponto e outro de nós mesmos. Sim, nós não somos uma caixa de chocolate fechada cuja abertura não revelará qualquer surpresa. Somos antes "casas muito grandes, muito compridas” e “[...] é como se morássemos apenas num quarto ou dois” (ANTUNES, 2004). Imagino que a maioria de nós guarda semelhanças com as personagens de Shakespeare e Molière, simultaneamente. Somos dramáticos e cômicos, ao mesmo tempo absurdos e completamente centrados e equilibrados. Somos ambivalentes. E, por uma razão ou por outra, na maioria das vezes nos apresentamos diante dos outros segundo apenas um dos pólos dessa ambivalência. Escolhemos quem queremos ser. Muito porque como escreveu José Saramago “Vivemos numa espécie de alarme em relação a nós mesmos, que talvez seja não querermos saber quem somos na realidade”. Desse modo, somos na maioria das vezes equilibrados - é o socialmente aceitável -, e no restante do tempo, entre os mais próximos, entre quatro paredes (e por que não dizer entre iguais?), menos convencionais – ou mesmo uns perfeitos idiotas. Que vergonha eu não teria se soubésseis de minhas tolices!
Ora, esse autoconhecimento educativo e formador, construtor de personalidades, encontra, ao nível do teatro, grande proeminência principalmente no Teatro do Improviso. Este, afeito à espontaneidade, ao “não pensar” e ao “não ajuizar” das atitudes/condutas, abre espaço a um melhor entendimento e conhecimento do ator que age de improviso, ou seja, no âmbito da escola, dos alunos que submetamos a essa atividade. Não sem sentido Fernando Pessoa escrevera que nada senão o instante o conhecia, pois é no instante, no tempo que age de surpresa, que não nos pensamos e não sucumbimos ao alarme de sermos.
No teatro do Improviso a encenação é livremente criada no decorrer do espetáculo, não havendo falas, nem quaisquer referências cênicas preestabelecidas. Principia-se a ação partindo de um tema, ou de uma contação de história prévia, que os atores e atrizes, e mesmo os espectadores presentes, encenam a seu bel prazer. A ferramenta primordial é a criatividade.
Por esse meio, pela permissão concedida ao aluno de ser sujeito da ação, de falar e agir sem repressão diante de um determinado assunto, logramos outro nível de conhecimento desses mesmos alunos, ao mesmo tempo em que lhes possibilitamos melhor conhecerem-se. Para isso é, no entanto, fundamental que ao final da representação levantemos questionamentos pertinentes com relação às escolhas cênicas de cada um. Não podemos, nem devemos, ficar na cena pela cena. É necessário que se questione, a título de exemplo, por que o aluno A, numa encenação sobre a chegada dos portugueses ao Brasil, representou um indígena assombrado e temeroso e o aluno B, um indígena destemido e antes curioso em relação ao outro. Num exemplo como esse deve, inclusive, trabalhar-se a imagem projetada do colonizador. Como eles o representaram? Por que o representaram assim? Representaram o colonizador todos de igual modo? Por quê? Se não, quais foram as variáveis? E o indígena? Teve sempre o mesmo tipo de representação? Por quê?
O teatro do Improviso abre espaço a inúmeras possibilidades. Tem como principais elementos a “[...] sensibilização e a reflexão sobre problemas coletivos [...], a intervenção crítica e criativa em termos específicos [...], as atividades educativas [...], a expressão artística natural [...], o entretenimento” (MOURA, 2008), sendo, por vezes, “[...] um caminho que se abre para os (as) tímidos (as) [...]” e “Outras vezes [...] para a liberação dos (as) extrovertidos (as) no sentido de desenvolverem uma introspecção necessária” (MOURA, 2008).
Deve atentar-se, no entanto, para o fato de que o teatro do Improviso é antes de tudo um exercício bem ao jeito das brincadeiras propostas por Boal no livro "200 exercícios e jogos para o ator  e o não-ator com vontade de dizer algo através do teatro". Não tem um caráter fechado, de obra/representação terminada. É moldável, incerto, e por isso mesmo de uma fecundidade e ludicidade elogiável, estando muitas vezes, ou descambando muitas vezes, melhor dizendo, no humor, devido às falhas a que está sujeito. A espontaneidade, todos sabemos, é rica em atropelos. E isso é exatamente algo que o professor deve saber gerir. Caso contrário, o exercício se perderá.
Algumas indicações pertinentes à execução do teatro de Improviso são:
·         A contação de uma história antes do tema dado (o que pode ser favorável no sentido de estabelecer uma linha de representação e, por conseguinte, uma espécie de controle da ação), ou a iniciação da representação a partir de um tema (nesse caso a liberdade de interpretação parece de maior plenitude)
·         A preparação do aluno por meio de exercícios/jogos teatrais. Algo que o professor deve tentar promover conjuntamente com os professores de artes.
·         A preparação do aluno ao nível dos questionamentos. É importante que o aluno perceba o alcance do que ali será representado, que ele entenda que há nesse exercício do Improviso muito mais do que uma brincadeira. Há formas de ação, jeitos de pensar, preconceitos, sistemas de referência que serão revelados e que devem ser pensados.
·         A execução nos anos mais avançados, como Ensino Médio, devido a uma maior maturidade necessária na compreensão das dinâmicas.
·         O controle da encenação, na medida do possível. Controle no sentido de que a aula/exercício não se torne, literalmente, uma brincadeira. Para isso concorrem alguns elementos: a preparação dos alunos (exercícios/jogos, visionamento de vídeos demonstrativos), idade dos intervenientes, personalidade dos intervenientes, o meio, a preparação do docente, o tempo de representação. De destacar que sobre alguns desses itens o professor tem, ou poderá ter, total controle, ao passo que outros escapam-lhe completamente. Nos dois primeiros itens – exercícios/jogos e visionamento de vídeos demonstrativos – o educador tem total poder. Depende dele a promoção dessas atividades, quer unicamente na sua disciplina, quer com o apoio de outros professores. Na questão da idade, enfatizo a preferência pela execução dessa prática nos anos do Ensino Médio. As outras questões como personalidade e o meio serão trabalhadas pelo professor, que regra geral, no caso de História, não tem preparação teatral. Essa será, talvez, a maior das dificuldades. Um especial cuidado é requerido no tempo de encenação. Proponho exercícios nunca superiores a 10 minutos. A longa duração dá, não raras vezes, lugar ao desvirtuamento.
·         Atenção à propensão para o humor deste tipo de exercício. O professor deve estar preparado para trabalhar o riso. Por que riram os alunos-espectadores diante daquela cena? A ação do personagem foi naturalmente cômica? Por quê? Tem algo de real no que representou? Ou não? O que provocou o riso? Uma ação cotidiana? Uma fala do personagem? Uma manifestação preconceituosa? Um estereótipo?

Em suma, o exercício do Teatro do Improviso permite abordagens deveras enriquecedoras, principalmente ao nível da promoção do autoconhecimento e do trabalho com sistemas de valores e preconceitos, comportando, no entanto, algumas dificuldades de execução, ora dependentes, ora independentes da vontade do docente. Dessa forma, é aconselhável um trabalho bastante cuidado e meticuloso na sua preparação, devendo o profissional do ensino, na falta de formação teatral, pesquisar e procurar inteirar-se das melhores metodologias e práticas educativas no que à sua execução se refere. Em última análise, o que se destaca é que tal exercício/jogo não pode ficar arredado de um ensino cada vez mais inovador e multidisciplinar voltado para a completude individual e formação cidadã.

Deixo abaixo dois links para vídeos de Teatro do Improviso:

Bom trabalho!


Referências bibliográficas:


MOURA, A. S. . O Teatro de Improviso como prática educativa no ensino de História. In: XIII Encontro Estadual da ANPUH - História e Historiografia: Entre o nacional e o regional, 2008, Guarabira (PB). XIII Encontro Estadual da ANPUH - História e Historiografia: Entre o nacional e o regional, 2008.
O improviso no teatro e na dança. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=AeMca85HfzM>. Acesso em: 29 de dez. 2014.
Teatro do improviso com histórias reais. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=l6DQ-vvL9HE>. Acesso em: 29 de dez. 2014.